Os falastrões, poema do Bukowski pesado demais para essa geração vazia
Seria pesado escrever em medidas ou porcentagens o quanto eu não consigo ler do Bukowski, pesado mesmo. Mas esse poema em particular, me faz pensar muitas coisas de revirar os olhos com a geração de hoje.
Ainda que esteja eu nela, e com zero autonomia para falar de Charles Bukowski e seus poemas, ouso citá-lo. Perto das eleições de 2022 então… Ele quase se faz necessário, porque não aguento mais redes sociais.
Me fazendo lembrar de um livro completamente distante desses poemas, Sociedade da transparência, do Byung-Chul Han, fica em minha mente quando pense nesse aqui em específico.
Por fim, seja uma viagem bem longa ou não que eu tenha feito, gosto desse poema e quero compartilhá-lo. Ele está no livro Queimando na água, Afogando-se na chama.
Os falastrões – Charles Bukowski
o garoto caminha por minha alma com pés
embarrados
falando de recitais, virtuosi, regentes,
os romances menos conhecidos de Dostoiévski;
falando de como corrigiu uma garçonete,
uma fuleira que não sabia que a vestimenta francesa
se compunha disso e daquilo;
ele tagarela sobre as Artes até que
eu odeie as Artes,
e não há nada mais limpo
do que voltar ao bar ou
às pistas para vê-los correr,
ver as coisas sem este
clamor e papagaiada,
conversa, conversa, conversa,
a boquinha que não para, os olhos piscando,
um garoto, uma criança, doente por causa das Artes
agarrado a elas como à saia de uma mãe,
e eu me pergunto quantas dezenas de milhares
existem como ele espalhados pela terra
em noites chuvosas
em manhãs de sol
em fins de tarde feitos para a paz
em salas de concerto
em cafés
em saraus
falando, emporcalhando, argumentando.
é como um porco que vai para a cama
com uma boa mulher
e você já não quer
mais essa mulher.
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[…] do navio é o título mais longo e mais querido que tenho na minha estante. Dentre os do velho Charles Bukowski, esse é o meu […]