Poema Estâncias para Augusta de Lord Byron

O poema Estâncias para Augusta de Lord Lyron está datado em 24 de julho de 1816 e acompanham outras “estâncias”. Traduzido por Péricles Eugênio da Silva Ramos, leia-o completo abaixo.

ESTÂNCIAS PARA AUGUSTA

Embora, concluído o dia de meu fado,
A estrela desta sina tenha declinado,
Teu brando coração se recusou a achar
As faltas que puderam, tantos, encontrar;
Embora tua alma conhecesse a minha dor,
Não recusou comigo partilhá-la, e o amor
Que minha mente ideou, pintando-o para si,
Jamais ela o encontrou, nunca, a não ser em ti.

Quando sorri a natureza em torno a mim
Esse último sorrir, que ao meu responde assim,
Não acredito que ele seja enganador,
Porquanto me recorda o teu, em seu frescor;
E quando em guerra os ventos se erguem contra o mar,
Tal como os peitos, em que eu cria, a me atacar,
Se as vagas inda me despertam emoção,
É que afastando-me de ti elas estão.

Embora a rocha da esperança haja estalado
E os seus pedaços n’água tenham-se afundado,
Embora eu sinta entregue à dor meu coração,
Ele não há de dar-se a ela em servidão;
Muitas angústias há, tantas, a me acossar;
Se podem me esmagar, não podem desprezar;
Podem me torturar, não me subjugarão
— Eu penso em ti unicamente, nelas não.

poema-byron

Embora humana, em tempo algum tu me enganaste,
Mulher embora, tu jamais me abandonaste,
Embora amada, tu evitaste me afligir,
Embora caluniada, firme em resistir,
Embora eu cresse em ti, tu não me repudiaste;
Não foi para fugir que um dia te apartaste;
Embora atenta, não para me denegrir;
Nem silenciaste para o mundo então mentir.

Contudo eu não censuro nem desprezo a terra
Nem, contra um, da multidão censuro a guerra;
Para apreciar tal coisa não fui eu formado,
Foi loucura eu não ter mais cedo me afastado;
E se caro esse erro veio a me custar,
Bem mais do que algum dia eu pude suspeitar,
Por mais que me fizesse — achava eu – perder,
De ti não poderia nunca me tolher.

Vi o passado perecer e naufragar
E dele eu posso ao menos isto recordar:
Aquilo — ensinou-me ele — que mais eu queria,
Ser o mais caro, em meio a tudo, merecia:
No deserto uma fonte — eu vejo — está brotando,
Uma árvore no ermo ainda frondejando,
E um pássaro cantando em meio à solidão
Que me fala de ti à mente e ao coração.

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